Quem
nunca quis ser um herói ou uma heroína,
lutar contra o mal e destacar-se por seus feitos de coragem e ousadia?
Esse
desejo não é recente. Desde a época do bronze, há quase 3 ml anos, na Grécia,
ela já estava presente em histórias fantasiosas de destemidos heróis, como
Perseu, Hercules, Aquiles, Ícaro e outros, para quem os limites existiam apenas
para ser quebradas.
O dia em que vi Pégaso nascer
Meu nome é Atena.
Sou a
deusa da sabedoria.
[...]
Foi por
admirar a força da juventude e a pureza de espírito que resolvi ajudar Perseu,
o mais nobre de todos os jovens guerreiros da antiga Grécia. Tudo começou inesperadamente,
no meio de uma festa.
Eu costumava observar
Perseu do alto do Olimpo e acompanhar seu treinamento de guerreiro. Ele era
jovem, veloz, esperto, mas gostava de tentar fazer coisas além de suas forças.
Convidado para jantar na
casa do rei, Perseu decidiu que precisava impressioná-lo. E declarou, diante de
todos os convidados, que arriscaria a vida para matar Medusa, minha monstruosa
inimiga, a criatura gigantesca que destruía todos os que se atrevessem a entrar
em seu esconderijo nas cavernas.
Medusa era o nome de uma das três cabeças das
górgonas que habitavam o
corpo de um enorme dragão. Suas patas mortais eram de bronze, e as pequenas
patas, de ouro. O olhar de medusa era tão poderoso que transformava homens em
estátuas de pedra. Para vencê-la, seria necessária muita força, agilidade e
toda a proteção do mundo.
Quando me contaram que
Perseu havia se oferecido para enfrentar a fera, admirei sua coragem e resolvi
ajudá-lo. Assim que a luta entre ambos foi marcada, tive uma ideia: chamei à
minha presença Hermes, meu irmão, mensageiro dos deuses, e juntos nos revelamos
a Perseu. Nós lhe dissemos que precisávamos estar ao seu lado durante a luta e
que, caso desejasse a vitória, deveria obedecer às nossas ordens.
Primeiro lhe pedimos que
procurasse as ninfas, as jovens mágicas dos lagos e rios, pois elas o amavam e
fabricariam uma arma especial para ele. Perseu obedeceu, e das lindas ninfas
ganhou sandálias aladas, uma sacola mágica e um capacete que lhe conferiu o
poder da invisibilidade.
Hermes, achando que Perseu
necessitava de mais de uma arma, ofereceu-lhe uma lança leve e cortante como a
minha. Quanto a mim, Palas Atena, deusa grega da sabedoria*, resolvi
acompanhá-lo, pessoalmente e lutar a seu lado caso fosse preciso.
No dia do combate, desci até
a gruta do monstro e me escondi num canto. O lugar era repugnante. A fera
exalava um cheiro horrível, o ar estava úmido e pesado, por todos os lados eu
via estátuas de pedra, na verdade os corpos dos guerreiros assassinados por
Medusa e suas irmãs.
A entrada de Perseu foi
inesquecível. Ele rasgou os céus como uma águia. Rapidamente aplicou um golpe
certeiro no monstro e cortou-lhe uma das cabeças. Sangue verde espalhou-se por
toda a caverna, e as duas cabeças restantes começaram a urrar. Ainda voando,
Perseu afastou-se e, em seguida, apontou sua lança contra a segunda cabeça. Ela
também caiu por terra. Só que, quando isso aconteceu, uma das patas do monstro
o atingiu e Perseu perdeu o equilíbrio. Seu capacete caiu no chão e ele
imediatamente se tornou visível.
— Ah! Jovem atrevido! — gritou
a Medusa com sua voz grossa e tenebrosa. No ar, Perseu voava em círculos,
mantendo-se de costas para o monstro. Ele sabia que, caso a fitasse nos olhos,
se transformaria numa estátua. — Agora você não me escapa!
Percebi que precisava entrar
em cena. Lembrei-me de que tinha um escudo comigo. Gritei:
— Perseu! Apanhe o escudo,
proteja-se!
Recuperando as forças Perseu
agarrou meu escudo no ar. Ele havia sido forjado pelas ninfas. Sua superfície
brilhava com a limpidez das águas e refletia imagens como um espelho.
Empunhando-o, Perseu desafiou a fera:
— Olhe para mim, criatura
medonha!
Quando ela percebeu o truque,
era tarde demais. Perseu levantou o escudo na altura da cabeça do monstro.
Assim que a Medusa olhou para a própria imagem refletida em sua superfície
polida, sentiu seu corpo todo enrijecer-se e transformar-se numa gigantesca
estátua acinzentada.
Perseu desceu ao solo e eu o
amparei. Ele se recostou contra a parede e, ao seu lado, presenciei uma das
mais belas cenas de minha longa vida de deusa. Do sangue verde e viscoso das
horríveis górgonas saiu uma luz azul dourada e brilhante que aos poucos foi
tomando forma. Lentamente foram surgindo os contornos de um maravilhoso cavalo
alado.
O magnífico animal
aproximou-se de nós e abaixou a cabeça, balançando a crina ondulante e prateada
como se nos cumprimentasse. O nome Pégaso estampou-se em minha mente e eu o
acariciei. Em seguida, Perseu montou no dorso do animal para que este o levasse
até seu rei. Perseu prometera entregar-lhe a cabeça cortada de Medusa.
E que espanto meu jovem amigo
causaria ao mostrar aos gregos seu luminoso animal e seu novo escudo, com a
face tenebrosa da Medusa eternamente marcada em sua superfície mágica!
PRIETO,
Heloísa. Divinas aventuras: histórias da mitologia grega. São
Paulo: Cia das Letrinhas, 2000. p. 13-5.
Sugestão de atividades
Interpretação do texto
a)
Quem é ela?
b)
Sobre quem a narradora começa a falar? Sobre um
homem ou sobre um deus?
2)
Atena descreve Perseu como jovem veloz e esperto,
e, alem disso, dotado de uma característica própria dos heróis.
a)
Qual era sua característica?
b)
Para impressionar o rei, que prova de coragem o
jovem decide dar?
3)
A deusa dispõe-se a ajudar Perseu por admiração e
por um motivo pessoal.
a)
O que ela admira no jovem?
b) Que motivo pessoal levou a deusa a auxiliar Perseu
4)
Para vencer, Perseu usa poderes sobre-humanos.
a)
Quais são esses poderes?
b)
Como Perseu conseguiu esses poderes?
c)
Dos presentes que Perseu ganhou das Ninfas, um não aparece
mais na narrativa. Qual é ele?
d) Além de entregar ao rei a cabeça da Medusa, que outra comprovação da derrota do monstro Perseu pôde apresentar aos gregos?
5)
Perseu, em sua aventura, enfrenta monstros, lugares
horríveis e situações que causam repulsa
e medo. No entanto, após a derrota do inimigo, algo belo e bom se origina dele.
a)
Qual foi a recompensa do herói, originada do
próprio inimigo?
b)
O titulo do texto já anunciava o fim da narrativa.
Como se deu o nascimento de Pégaso?